segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Closer to the sky


Favor ouvir enquanto lê.

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Tinha como hábito os banhos regados a música. Geralmente dançava, ou apreciava estaticamente, encaixava-se com o ritmo. Mas naquele banho estava envolto nas situações cotidianas. Dinheiro, horário, entre outros. Cabelo, partes do corpo; xampu sabonete: tudo era feito maquinalmente, entre comentários mentais em relação à temperatura da água e o sol no ambiente.

E foi maquinalmente que o viu. Ali, voando, se aproximando, jazia o mosquito. Localizou-o, focalizou-o, tentou envolvê-lo com a palma. Pegá-lo enquanto no ar, ao invés de esperá-lo parar em alguma superfície. Era também um de seus hábitos. Fazia-o rapidamente, mas não tão rapidamente quanto deveria ser.

Escapou. Viu-o subindo, indo em direção ao teto. Um tanto alto para a baixa estatura do garoto. Não teve dúvidas: pulou. E foi nesse momento, que, somado ao entrave entre homem e inseto, veio o som. A música! Nelly Furtado, com o seu sotaque canadense, proferia as seguintes palavras: "Mais perto do céu". Sim, em bom português. E de Portugal.

E foi assim que estava. E foi assim que se viu. Enquanto no ar, sua mente foi rápida o bastante para, ao mesmo tempo, tentar agarrar o pequeno animal e refletir sobre o som que vibrava seus tímpanos e os seguintes ossículos. Estava, realmente, mais perto do céu. Assim se via. E a poética do verso, do momento, dominava-o! Não conseguiu obter o inseto na primeira vez. Pulou novamente, mas pulou mais alto. E assim seguiu. Mal seus pés tocavam o chão, e já de lá saíam com impulso e força renovados. De que importavam as poucas horas de sono? Nelly dizia "Como uma força/ como uma força/ como uma força que ninguém pode parar".

E assim continuou. Naquela aventura particular e minúscula, sem quaisquer grandes consequências para a humanidade, o garoto se mantinha. E Nelly o ajudava. Dava-lhe força!
Pulava alto, mais alto do que jamais o fizera. Alcançou o céu. O teto, no caso. A cada tentativa, localizava novamente o mosquito em voo desorientado. Até que não o achou mais.

Parou de pular. Agora parado, estático em seu lugar, olhou para o punho fechado. Abriu-o. E lá jazia o pequeno voador, inerte. Triste, sim, mas pior seria uma transmissão de dengue. Além do mais, mosquito tem vida curta.

E foi assim que o garoto se sentiu forte. Ainda que uma força utilizada sem fins significativos, foi uma força que ninguém pôde parar.