quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Why doesn't it always rain on me?

Eu falei com a chuva. Veio a mim sem eu sequer chamá-la, mas como foi bem-vinda! Quem sabe ela tornasse minhas lágrimas camufladas. Como a quis! Pedi-a com mais força. Pingos grossos! Daqueles que se fazem perfeitamente audíveis ao tocar o chão.

Eu falei com a chuva, e ela não me atendeu. Fez-se garoa. Mas era de força que eu precisava. Um toró traria à tona todo aquele sofrimento guardado pelas convenções sociais, que só de cutucar já dói o corpo todo.

Mas ela queria me ver sofrer. Não a culpo; nada que eu não merecesse. E a ela isso disse. Que fosse feita sua vontade. Falei-lhe que entendia seu desejo: que minha dor extravazasse aos poucos, evaporando sem pressa. Nada mais justo. Contei-lhe que a dor da qual eu havia sido agente dela agora sofria. E causada por mim! Nada que ela não soubesse.

Eu falei com a chuva, e ela me ouviu. Vai ver que por pena tratou de ganhar vigor. Que maravilhoso! Senti meu cabelo umedecer, mas não tão rápido quanto desejava. Comentei com ela que bem que podia ser mais. E ela diminuiu. Fui eu ganancioso? Abusivo? Tudo bem, pedi que mantivesse o ritmo de antes. Ela manteve: cessou água. É preciso ser tão exato assim com a natureza?

Eu falei com a chuva, e ela me ouviu. Ouviu, mas não atendeu. Circulei um pouco pela rua, ainda esperançoso. Até que percebi seu jogo. Entendi que, assim que entrasse em casa, ela desabaria. Acreditava que era apenas para me dar o gostinho, e assim aumentar o que eu tava cá dentro. E assim foi.

Até demorou um pouco. Achei estar errado. Mas ela veio: desabou com o que podia. Mas só por provocação: logo se recolheu ao seu nada, e eu ao meu.
Meu nada nunca havia pesado tanto.

domingo, 9 de agosto de 2009

Indagação

Todos os dias, a qualquer momento (seja no primeiro abrir de olhos, seja ao ver a morte pela caixa mágica ou pelo papel, ou até mesmo quando se aprecia a mais saborosa das sobremesas), milhões de pessoas, de tão espalhadas que parecem poucas, fazem-se a mesma pergunta: é para ser assim?

Talvez não.