sexta-feira, 18 de julho de 2008

Fase.

Esse blog agora passará para uma nova fase. Leiam bem, fase: não é um passo à frente, até porque são precisas várias recuadas para que se possa avançar, e duvido que essa tal fase seja algo mais "evoluído" do que o próposito real desse espaço.

Engraçado como muitas vezes termino por me sentir como uma estrela. Como se Deus e o mundo visitassem esse site todo dia, toda hora. Deve ser o meu complexo de humildade; sim, acredito ter desenvolvido um, após repetitivos comentários sobre notas em provas na escola. Acontece que eu sempre tirei notas acima da média. Até já "levei vacilo" por isso uma vez. Bando de crianças inconseqüentes. Tem seu lado bom, o tal complexo: enquanto outras pessoas parecem se importar com certos fatores de como aparecerão para as outras pessoas, desconhecidas, vale ressaltar, eu sequer penso nisso. Mas deve estar na hora de acabar com isso, pelo menos por aqui. Esse é o meu lugar; feito para mim. E aqui faço o que quiser.

Enfim, acontece que agora, em vez de relatar cenas de minha vida e imaginário (por que não pode meu imaginário ser a minha verdadeira vida?) e minhas opiniões, passarei a descrever as experiências de viagem. Sei que soa como se não houvesse diferença, exceto o ambiente; devo ter me expressado mal.

Acontece que desejo que a viagem seja memorável. E como a minha memória não é lá das melhores, que jeito melhor de guardar o passeio do que escrevê-lo? Não consigo pensar em nenhum outro. Claro, há fotos e vídeos, mas esses não são melhores: são tão bons quanto. E virão no pacote.

E claro, deve vir à cabeça leitora como raios arranjarei tempo para dedicar e meio de acesso ao blog. Calma! Minha irmã possui um laptop, e espero que ela gentilmente o ceda para mim. E devo descansar alguma hora, não? Espero também que haja wi-fi por lá. Estamos falando de "primeiro mundo", oras!

Bom, estejam prontos para encontrar minhas opiniões sobre a França e Londres, além de descrições dos lugares e de sensações, claro. Considero este meu último post em solo brasileiro pelos próximos 15 dias.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Susto.

Vivia cheios de planos mirabolantes. Quantas vezes não amarrou um fio de linha de costura a uma vasilha com água, para molhar um primo? Achava ter criado a engenhoca maravilhosa! Sem falar dos códigos: chamar a cadelinha era o sinal para que o amigo puxasse a corda. E esse era mais uma idéia dele: mandar um de seus textos para a mãe e ver qual seria a reação. Planejou com cuidado: escolheu qual seria e mandou para uma amiga mandá-lo para o email da mãe. Perguntaria à mãe por um texto que continha vários links úteis a ele, pedindo que ela o mandasse. Assim chamaria a atenção dela para o tal texto. No momento em que ela o lesse, estaria ao seu lado.

Na verdade, não esperava nada parecido com o acontecido. No dia seguinte, foi perguntar a ela sobre os tais links úteis. Ela então assumiu uma postura diferente da normal: ficou tímida, encabulada. Manteve-se um tanto quanto encolhida. Parecia uma criança que havia acabado de quebrar algo de valor! Começou a falar devagar, como que para não causar confusão:

-Olhe, era sobre isso que eu queria conversar com você.
-Sobre os links?
-Não, não, não os links. Eu tava querendo falar com você sobre isso, mas fiquei com vergonha, mas... é melhor falar logo de vez, em vez de ficar guardando isso.
-O quê, mainha? - Ele se fez de desentendido.
-Eu abri o meu email, e... tinha um texto. Não era de ninguém conhecido... Aí comecei a ler. Eu fui lendo e... isso era você, meu filho. Tudo que tava ali era você!

Ele tentou se manter sério, mas não conseguiu. Decidiu então entregar o jogo. Falou sobre o que tinha feito. Ela o olhou com uma expressão bastante surpresa, mas logo após aliviou-se como se tivesse tirado um grande peso das costas.

-Ah! Eu não acredito! Tu num sabe como eu fiquei agoniada quando fui ler! Eu achei que tivesse sido engano, sabe? Aí quando terminei de ler, me bateu uma culpa... comecei a pensar "ai meu Deus, eu não deveria ter lido! Com certeza foi engano, foi engano, ele não queria mandar isso pra mim, e agora eu li, aaah!" Eu mostrei pro seu pai, ele constatou que era realmente você. Aí... é isso, filho. Achei que não devesse ter lido, aí fiquei cheia de dedos pra te perguntar!

"Cheia de dedos". Essa expressão chamava bastante a atenção dele. Na verdade, a notara realmente num anúncio publicitário (como são presentes em nossas vidas!) de sandálias, e desde então vinha reparando.

Bom, uma vez dito aquilo, não podia fazer nada além de rir. Abriu um sorrisão envergonhado, se é possível. Jamais esperara causar um susto na mãe. Apesar de que tais reações aperriadas dela eram muito comuns; quantas vezes não o perguntara se tinha algum trauma de infância?! O que realmente queria era que ela se indagasse quem era o tal escritor, e não descobrisse logo de cara. Ela depois disse algo que, dessa vez sim, era de expectativa dele:

-E depois você me diz que não sabe escrever redação, hein!
-Uma coisa é dissertação, mainha. Dissertação não prova que você sabe escrever, é só um molde no qual você tem que se apropriar - parafraseou a tia, professora de Redação.

Depois do ocorrido, foi dar mais uma olhada no texto escrito por ele no computador. Como fora estúpido! Estava todo ele estampado lá, realmente! As definições dadas das pessoas, os locais da casa, tudo denunciava o fato de ser ele. Nunca poderiam não perceber.

Hoje mesmo recebeu uma mensagem de uma amiga:
'Depois do susto, constatei que meu filho é um grande escritor!'

Além de mãe assustada e aperriada, é mãe coruja. Vai ver fosse inevitável ela perceber o autor. Vai ver que não.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pensamento.

Penso que meus textos vêm melhor quando os coloco em terceira pessoa, apesar de que apenas três desses foram escritos assim.
Penso que passo muito tempo discutindo como devo escrever, em vez de escrever propriamente. Mas não seria essa discussão uma escrita propriamente dita? Lá vem eu com mais discursos metalingüísticos!
Penso que... o que pensava mesmo? Esqueci. É isso! Penso que esqueço. E como esqueço! Numerosas são as listas que espalho pelos cantos da casa, para que não me esqueça de nada. Claro, uma pequena escapadela é inevitável, mas é preciso tentar fazer o melhor.
Penso que escrevo demais. O blog não tem nem um mês e já vejo 20 fragmentos. Ou será que apenas sou enganado pela quantidade? Como se já tivesse sido criado limite de escrita.
Penso que penso demais. Deve ser verdade. A dificuldade antes de dormir me leva a afirmar isso. Tantas idéias que eclodem até que em um momento, sabe-se lá por quê, digo basta e então posso começar a relaxar.
Penso que não me decido sobre as coisas. Uma olhadela pelas linhas acima e percebe-se minha dúvida. Uma simples vasculhada nos excertos aqui postados e vê-se isso também. Vai ver ter certeza das coisas seja impossível. Ou então seja simplesmente monótono e enfadonho. Questionar-se é que movimenta o mundo.

Bom, ao menos penso. Terrível seria se não o fizesse.

Trecho.

-Eu trouxe algo para você de lá.
-Sério?! Cara, eu não trouxe nada pra tu, foi mal...
-Não tem problema.
-Pow, brigada!
-Nada...
...
-Tu ainda sente algo por mim, não é?
-Sabe, muitas vezes quando alguém diz ter feito algo, esse alguém na verdade queria tê-lo feito, mas não o fez. É o meu caso. O que eu mais quero agora é te esquecer! Mas quem disse que consigo? Na verdade, é a segunda coisa que mais quero...
-E qual seria a primeira?
Aproximou-se e beijou-a. Não importava qual seria a reação dela, ele precisava fazer isso. Ela parecia estar num processo de sinapse lenta. Quando os neurônios finalmente transmitiram os impulsos, afastou-se e disse:
-Pára! A gente já falou sobre isso!
-É, eu sei. Só amigos, eu lembro. Mas como pode ser só amigos? Aquela tarde não foi nada, não houve sentimento algum?
-Eu... eu... sei lá! Eu tô muito confusa!
-Você acha que eu tô normal? Tu num sabe o embaraço que tu causou aqui dentro!
Não conseguiu terminar o que tinha para falar. Ela também mais nada disse. Chegou a quase sussurrar uma expressão de dúvida, bem conhecida dele, mas não emitiu qualquer som. Ficaram ali, olhando-se, até ele achar que a estava incomodando, apenas para então voltar a observá-la.

Aquele dia poderia ser considerado um alivio de tensões. Depois dele, cada um seguiu seu caminho: ele procurava outras no intuito de esquecê-la; já ela... sei lá.

Sequer vale título.

Se você perguntar a alguém sobre quais são seus maiores sonhos, há uma boa chance de ir à Europa estar entre eles. Seguindo essa lógica, estaria eu realizando um sonho ao ir viajar? Com certeza! Só que nem me sinto como se o estivesse fazendo. Bom, senti-me mais empolgado com outras viagens mais "simples", assim digamos, como Xingó e Natal. Na verdade, acho que só me empolguei realmente quando chegou o dia. Quer saber? O meu momento de querer escrever esse texto passou. Parece não fazer mais sentido... fico por aqui.

sábado, 12 de julho de 2008

Organização.

-Essa casa só vive desarrumada.

Normal, pensou ele. Com normal, ele quis dizer "ah, essa frase tá no grupo das 'você não pode ter nada inteiro!', 'Meu Deus, parem de brigar!' e 'meu filho, quando você vai aprender a dar descarga?'", ou seja, comumente ditas. Em qualquer outro dia a ignoraria por completo, e continuaria a digitar o que quer que fosse aos seus amigos - sem olhar para a tela do computador, claro. Adorava se gabar de tal proeza -, mas não hoje. Fosse o que tivesse sido, hoje era um daqueles dias onde sua cabeça entrava em curto. Hoje era dia de arrumação.

Vinha de repente, como um impulso. Botava na cabeça que deveria arrumar o que quer fosse (geralmente o escritório), e além da cabeça botava também no seu quadro, na lista de afazeres, junto às matérias do colégio que deveria copiar. De repente, sua mãe abria a porta, e lá estava ele, no chão, espirrando; fazia uma bagunça ainda maior, mas por uma boa causa. Ajudaria a arrumar. Ela já nem argumentava mais - e tinha jeito? Tomou um susto ao abrir, mas só aqueles sustos até habituar-se a situação.
-Quer uma máscara?
Ele fez que sim. Cobrir o nariz com a gola da camisa não era o suficiente. Rinite que é rinite resiste ao algodão macio do tecido.

Quando se pegava imaginando o porquê de tal surto, gostava de pensar num mecanismo, como fazia para tantas outras coisas: havia um limite de vezes que poderia ver toda a bagunça. Uma vez ultrapassado esse limite, tirava uma tarde para fazer tudo voltar ao seu lugar. Uma vez arrumado, o tal bagunçômetro voltava à estaca zero. Procurava manter a ordem o tempo possível, mas inevitavelmente o medidor voltava ao ápice.

Parecia até que se tornava outra pessoa. Começou com coisas pequenas, como as camisas no guarda-roupa. Mas era ambicioso; num curto intervalo passou para a escrivaninha do quarto. O mundo viria a seguir. No entanto, havia um obstáculo: o escritório. Há muito pertencera ao seu pai, que não agüentou a falta de espaço e construiu outro. Nesse momento está a construir mais um. É nessa hora que a Genética se vale: ambos acreditavam carecer de espaço. Só que enquanto um cria o espaço necessitado, o outro toma um pedaço e diz ter posse sobre ele. Poderia dizer que dois terços daqueles metros quadrados deixado de herança prévia eram seus, mas faltava ainda um terço que pertencia ao irmão. Não por muito tempo, em sua cabeça. Confabulava planos com a mãe: com o novo estabelecimento do pai, o consangüíneo migraria para outra área, com certeza. Infelizmente, o irmão era resistente. Mas o garoto sentia que era inevitável sua saída.

O método era simples: separar por assunto e, para cada assunto, a progressão do mesmo. Fizera assim com uns livretos de colégio que tinha, mas não demorou muito para doá-los; eram inúteis. Argumentava que a quantidade de papel armazenada era diretamente proporcional à quantidade de estudo, ou seja, o espaço era imprescendível, se quisesse passar no vestibular. Botando tal prova em questão, a mãe nem interrogava. De fato, com a chegada de ficha dos cursinhos X, Y e Z, foi preciso mais para manter a organização. Verticalizou-se. Admirava pranchetas, calendários, rolos de fitas adesivas (durex, crepe e uma marrom estranha que era muito larga, mas sempre se partia antes de atingir a outra extremidade), fotos, quadros, diplomas, pôsteres, até gorro de Papai Noel para natais futuros; tudo nas paredes. Buscava novos lugares mais convenientes para as coisas, e quando não era possível, tentava empurrá-las para a sala: fora dos limites do escritório não era mais o seu departamento. Fazia-o com cautela, pois poderia ser descoberto.

Aaah, mas como já disse, era ambicioso. Muitas vezes sonhava. Principalmente ao passar pelas tralhas do pai. Achava terrível, mas ao mesmo tempo incrível, a capacidade do seu velho de quebrar o princípio da impenetrabilidade: velas de barco, lemes, mastros, maquetes de trimarãs, circuitos elétricos, lâmpadas minúsculas, várias caixas de utensílios mecânicos empilhadas, livros sobre Delphi, Java, Photoshop, Windows e Linux, tudo num único lugar. Agora entendia a letra da tal banda circense. Mal sabia como
seu painho conseguia manter um armário de ferramentas. Seus olhos só podiam brilhar. Ao ver a cena, a mãe suspirava. Devia temer que o filho acabasse virando dono-de-casa.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

E... é isso, cara.

Não tem o que se falar. Ou talvez tenha, afinal de contas, estou aqui, não estou? Bom, sei que tá uma vontade intensa aqui na garganta, praticamente destruída, de falar sobre isso. Bom, vamos lá.

Na verdade, nem pareciam muito empolgados pra ir. Sabe como é, com toda essa complicação de distância e transporte, a pessoa meio que perde a vontade. Mas a tudo se dá um jeito! E num é que se deu?

Poderia vir aqui descrever cada detalhe do show, cena por cena que me vem à memória; poderia ou posso? Bom, certamente os momentos mais marcantes merecem uma marcação escrita, ainda que virtual.

O que se pode dizer mesmo é que Teatro Mágico é uma coisa que dificilmente se é hoje: original. Devo admitir que talvez nem Los Hermanos o seja. Mas em que outro lugar já se viu algo como a/o banda/trupe/circo? Claro, ver os três separadamente é fácil, mas nunca surgiu a idéia de misturar tudo. E algo que pude comprovar agora, é a sua atenção e carinho por todos.

Voltemos ao show. Tirando o fato de que não veio A Primeira Semana, tá tudo ok. Não vou dizer que não fez falta, mas nada que estragasse. Bom, o uso de palavrões é permitido? Só sei que foi foda. E não consigo mais expressar de outro jeito. Cadê aquelas muitas palavras pra explicar? Ah, dane-se. O que foi importante? Eu consegui adivinhar muitas músicas antes de se iniciarem. E a minha voz esvaíu-se com ... . O apoio dado com O Anjo Mais Velho. E a Gabi me abraçou. Por isso, nunca mais tomarei banho. Muitos outros momentos me vêm à cabeça, mas já disse que descrever tudo e qualquer detalhe não seria o objetivo. Mas isso foram só acontecimentos; fatos. O sentimento não está contido nessas palavras. E como contê-lo? Não se pode! Palavras, ainda mais assim, virtuais, nenhuma mostrarão a emoção. A minha capacidade de usá-las a favor de minha expressão não é lá essas coisas. Mas não custa tentar!

Na verdade, o sentimento mais forte em mim ainda vem em ... . A letra, o ritmo, seja o que for, colocam o homem como ele é. Como sempre deveria ser, mas não é porque é muitas outras coisas ao mesmo tempo, que o impedem de ser. Fui claro? Enfim, ... é a variedade. É o tudo! Todas as possibilidades que podem se formar, os sonhos que podem se realizar, é como se cada pessoa tivesse um universo para si, onde lá elas podem ser aquilo que sempre quiseram. É abrir a mente, é ser, é a seressência. A essência!

Agora, peço as mais sinceras desculpas, fãs do Teatro. Sim, incluo-me nesse grupo, então peço desculpas a mim mesmo. Mas eu nunca poderei deixar passar aquele momento em especial, quando todos estavam na emoção de Cidadão de Papelão. De repente, fez-se silêncio da voz de Anitelli, mantendo só o instrumental. O ritmo, a expressão das pessoas era diferente da de muitos outros momentos; mais calma. Mas aí, ele volta sua boca para o microfone.

Ele a abre.
Daí então, toma fôlego.
Prepara a garganta,
E então,
vem o "Olha".
"Olha".
Que soe estúpido, mas agora vejo tal palavra como se fosse o ínicio da seguinte frase: "Olha, Renato, o que fizemos para você."

Pausa.

Não foi necessário o "só". Na verdade, nem foi preciso que ele entoasse um princípio de "s" que fosse. Naquele intervalo milionésimo de segundo, que é mais um instante, eu percebi. Devo dizer que não foram muitos que o fizeram! Só constataram o fato após severos segundos, um universo comparado àquela fração, quando o palhaço passou da segunda palavra. A verdade é que antes mesmo de ele soltar o "só", eu já estava lá na frente, quase entrando no palco, esgoelando feito um louco as palavras seguintes. Minhas pernas tremiam de modo que era impossível fazê-las parar. Achei que fosse a posição mal-equilibrada, mas começo a convencer-me do que disse minha amiga: foi o momento mesmo. Chamem-me de tiete ou o que for, mas nada nesse universo poderá compensar aquele momento. Talvez nem os próprios! Não que seja porque é TM que está cantando, mas foi o desejo que me fora causado ali naquele momento. Ali, mais do que nunca, eu desejei que fossem eles cantando. Na verdade, cheguei a imaginá-los ali, naquela hora. E foi naquele momento que eu senti a saudade cortante, incisiva. A falta que eles faziam. Mas foi também naquele momento em que me veio a esperança da volta, mais forte do que em qualquer outro instante nesse intervalo de mais de um ano.

Aah, Teatro Mágico! Haja sensações que possam ser causadas por vocês. É para momentos como esse show que se vale a pena viver.


[edit]: e depois da observação pertinente de outra amiga, não posso deixar isso de fora. Uma pessoa não é nada só. Os pensamentos dela, ou até mesmo de uma dezena de pessoas, só se tornam algo quando há outros para apoiá-los. Foi assim com o Teatro Mágico. De que seriam suas idéias de arte livre se não fosse o público?! E é assim conosco. Poderia ter Anitelli, a trupe toda, até Gabi! Mas de nada valeria se eu não estivesse com aqueles com quem estive.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Porc en argile.

Estranho mimo, aquele porco!
diria o Parnasiano.
No marrom de sua origem terrena,
do barro catado pela mão
colocam-se os ideais revolucionários.
Taí algo que muitas vezes vi:
a bela união gálico-tupiniquim.

Voltemos a le porc, que é o principal.
Só faltou a ele um detalhe final.
Afinal,
o que é um animal
sem sua cavidade anal?

Amei Pierre por três meses e uns muitos reais
Por enquanto, deixo-o para lá.
mas, caso ouça o tintilar
volto para ele já.

Já se foi dito que o que importa está no interior
e como importa!
Na verdade, a isso foi dado muito valor
o jeito é aceitar
se adaptar
e usar.

domingo, 6 de julho de 2008

O antes e o agora.

Tudo é o momento, o instante, para ser mais exato (exatidão essa causada pelas aulas de Física). O você de agora não é o você de uns dias atrás. De umas horas atrás. De uns segundos atrás!

Não refiro-me apenas ao você aparência, é simplesmente... tudo! O conjunto. Sua cabeça, mais principalmente. Seu jeito de pensar. Quantas vezes me deparei com idéias que tinha há alguns dias que já não mais me pareciam convenientes quando fui repensá-las. E assim, como se saberá se a idéia era boa ou não? Vai ver não seja absoluto: era boa para você naquela hora, mas não é mais agora. E se a idéia for algo que vá afetar outros? Beneficiá-los? Bom, aí você pode apelar pro fato de que você amadureceu, o que logo torna a idéia algo imaturo. Mas vai que você regrediu? Não é só de avanços que vive o homem.

Não é o ponto principal. A verdade é que há vários textos que escrevo agora, mas que só são para serem mostrados daqui a um ano, mais ou menos. Aliás, acabo de me lembrar de que um deles está solto por aí, e precisa ser guardado. Já volto. (Levantar-se da cadeira. Virar-se. Correr. Virar à esquerda. Virar à direita. Começar a subir escadas. Subir de dois em dois degraus. Empurrar a porta. Se despreocupar, ela fecha sozinha. Acender a luz do quarto. Pegar celular. Ir em direção ao outro quarto. Acender a luz. Pegar pedaço de papel. Voltar ao primeiro quarto. Guardar pedaço de papel na gaveta. Reconhecer a letra de um amigo numa folha. Fechar a gaveta. Apagar a luz de um quarto. Apagar a luz do outro. Abrir a porta. Descer a escada de dois em dois degraus. Virar à esquerda. virar à direita. Puxar a cadeira. Sentar. Escrever.) Continuando...

O estalo veio durante uma aula. Estalo mesmo. Ou talvez não. A aula, interessante que era, mas, infelizmente, importante, deve ter causado uma série de pensamentos que havia chegado ao que gerou o provável estalo. Daí então, comecei a copiar o que vinha. Na cabeça, não na aula, vale lembrar.

Bom, achei-o formidável. Na verdade, considerando a ocasião e o meu temperamento mole, quase me emociono. Há ainda muito a ser desenvolvido, mas arranja-se tempo. Só que agora me pergunto se futuramente sentirei-me da mesma maneira, agirei da mesma maneira, a ponto de pensar sobre o excerto o mesmo que pensei outrora. Pelo bem ou pelo mal, mantenho-no guardado. Vai que se precisa?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Kiwi.

Parecia difícil. Era difícil, na verdade. Bastante difícil. Mas ele persistiu. Kiwi, o pássaro sem asas, utilizou todos os instrumentos necessários e possíveis para ele: corda, pregos, martelo, e o mais importante: força. Mas não qualquer uma; a força que vem lá de dentro, sabe? Depois entende-se melhor. Desceu o precipício cuidadosamente, levando cada uma das árvores. E que árvores! Graúdas, verdes, troncos grossos.

Mas afinal, onde já se viu utilizar árvores num precipício? Kiwi tinha seu propósito. amarrou uma ponta da corda numa árvore fincada lá em cima, descia pela corda, e martelava os pregos na que estava pendurada no precipício. Pregada uma, partia para a outra. Não se cansava; aquela força especial parecia não acabar nunca. Uma, duas, cinco, vinte... em alguns dias, centenas de árvores já estavam lá, firmes, como se tivessem criado raízes. Mas quem as criou foi o pássaro. Ah! Mas o sacrifício havia terminado. Todas elas estavam lá!

Agora, o objetivo final. Admirava de cima do abismo todo o seu esforço. E que esforço! Bom, tinha que se preparar: aquele, certamente, seria o momento mais importante de toda a sua vida. Afinal de contas, todo o seu trabalho havia convergido para aquele instante. Colocou um capacete de vôo. Vôo? Já, já você entende. Preparou-se bem, respirou fundo, tomou distância, pegou velocidade e...

...pulou.

A essa altura, tudo o que se pensa é na loucura feita pelo pássaro. Mas Kiwi poderia ser muitas coisas, mas não era louco. Nascera com um sonho: voar. Infelizmente, sua espécie não permitira. Teve que adaptar-se como pôde, e essa foi a maneira.

Nunca se sentira tão feliz. Sabe aquela força que o mantinha fincando as árvores? Pois é, ela vem lá de dentro. Daquele cantinho que você pensa não existir e só aparece quando você realmente quer. Quando você tem um sonho. E Kiwi o tinha. Toda essa força, depois de tudo o que havia passado, essa força virara alegria. Ele sabia das conseqüências, sabia o que o esperava no fim do passeio. Derramara uma lágrima. Não por causa do que viria no final daquilo tudo, mas simplesmente porque não contera a emoção. Não importava o esforço, não importava a solidão, sequer importava a morte! O sentimento de Kiwi era tão forte que nada o impediria de ser feliz naquele momento; nada o impediria de realizar seu sonho.

terça-feira, 1 de julho de 2008

(In)Decisão.

Sabe aqueles sonhos que fazem sentido, onde meio que parece que você tem total controle sobre ele? Bom, meus sonhos sempre foram sem nexo: matei uma menina com um ioiô, o amigo do meu primo era um alien, beijei uma amiga e fui parar no estômago dela... dessa forma, sempre achei que sonhos "normais" eram coisa de cinema. Até hoje.

Cá estava eu tirando o cochilo na poltrona da minha casa. De repente, entre uma piscada de olho e outra, encontro-me na casa da minha tia. Até aí tudo normal, só que me deparo com Sérgio, o professor de Filosofia e Literatura (bem, não há como não deixar um pouco do sonho sem sentido), com a sua já conhecida camisa da seleção argentina de futebol. Ou vai ver eu não reparei na roupa dele, mas associei logo que estava com a tal camisa. Viagens filósoficas à parte... Ele começou a discutir sobre algo que eu discutira há pouco tempo com a minha mãe, no mundo real (ou não? quem dirá qual é o verdadeiro?), que era a escolha do meu curso na faculdade. Com ela, a discussão havia gerado uma dúvida: após um ano e meio de decisão, eu não sabia se iria fazer Ciência da Computação ou Letras. Depois de um tempo, decidi fazer Ciência primeiro, e então veria o que fazer com Letras.

Mas a dúvida havia sido gerada. E ele sabia disso. Afinal, quem mais especialista do que ele para gerá-las? Começou a contestar a minha decisão, do seu próprio jeito criador de interrogações. Eu falei para ele sobre a decisão que eu havia tomado. Sérgio se irritou, coisa que nunca antes havia acontecido. Eu, no entanto, permaneci seguro do que dizia. Expliquei a ele que primeiro buscaria o meu sustento com as exatas, para então partir para as humanas, o que realmente gosto. Acho que foi aí que terminou. Na verdade, antes disso, ele segurou minha prima (ou foi meu primo?) e começou a balançá-la freneticamente. Como eu disse, algumas coisas não podem mudar.

Encaro a vinda de Sérgio como uma forma de relutância de parte de mim a minha decisão. É como se esse meu lado inconformado socialmente não aceitasse a escolha pela Ciência, e se revoltasse contra isso. Mas veja só, a revolta foi tão grande que conseguiu trazer um pouco de nexo aos meus sonhos! Confesso que prefiro-os estranhos: são mais cômicos. Mas variar um pouco não faz mal. Quanto ao que decidi, a dúvida já foi gerada, não é mesmo? Há ainda um ano para que se "prolifere". Ou não. Ou não?