sexta-feira, 17 de julho de 2009

Falha de comunicação

Posto de beira de estrada. Lojinha de conveniência. Algum lugar no Mato Grosso. Com sede, pergunto:
-Quanto é a latinha de ixpraite?

Duas meninas atendem. Uma delas não resiste, esconde o riso e sai da minha vista. A outra indaga:
-O quê?
-A lata de ixpraite. Quanto é?
A expressão dela seria a mesma se eu tivesse pedido asvujabsrtls. Começo a pensar se não deveria dizer "Quanto éah a latchinha dji ispraitxe?", mas fico com a repetição e passo a gesticular.

-A lata, a lata - simbolizo algo parecido com uma utilizando as mãos - quanto é?

A "sumida" ri mais. Está atrás da parede. Não a vejo, mas sei onde está. Minha vontade é de dizer que isso não se faz, que há vários modos de falar pelo Brasil, que o dela não é o certo, que não há certo, que o meu não é engraçado por ser diferente... mas prefiro desistir.

-Dois reais - a falante finalmente responde.

Pago, pego, espero o troco, tomo. Ou melhor, bebo. O gosto da matogrossense é o mesmo da pernambucana.

domingo, 5 de julho de 2009

Crise de insônia causada por um neoliberal

Talvez eu nunca tenha exposto aqui um texto político. Muito provavelmente, propositalmente. Sinto-me desconfortável ao expor opiniões de tal cunho. Na verdade, sempre acho que nunca tenho argumentos nem formação suficientes para discutir sobre esse assunto. Só que dessa vez o tópico me intrigou...

Sexta-feira. Eu, como um típico terceiranista da área de humanas, havia acabado de ter uma aula de História. O assunto era totalitarismos, Revolução Russa e a crise de 1929. Não sei se isso influencia, mas certamente é um contraponto ao assunto principal.

Por algum motivo, acabei por parar num tópico de orkut que perguntava sobre a legalidade da xerox de livros. Uma das pessoas que respondeu o tópico chamou-me a atenção, e chequei o seu perfil. Mostrava várias imagens comparando os E.U.A. com o Brasil, e outras que, muitas vezes, exaltavam o capitalismo, até o título de "capitalistic pig". Fiquei na dúvida se o determinado sujeito apoiava o regime ou o execrava.

No entanto, seu perfil trazia um link. Era o que eu precisava para definir sua posição política. O endereço trazido era o artigo "Por que a liberdade assusta tanto?", referente à inexigência do diploma para os profissionais da área de jornalismo. O artigo, não só pelo conteúdo, por alguma razão me foi bastante interessante. Por ele, tomei conhecimento do Instituto Ludwig von Mises Brasil, que busca passar adiante uma doutrina econômica da Escola Austríaca, seja lá o que for. O texto e o site mostram claramente a posição neoliberal (e anarquista, de um certo modo) do instituto.

Não vou mentir: entrei em concordância em alguns pontos. Mas outros, provavelmente os princípios básicos da tal escola, me foram extremamente absurdos. Esse trecho, por exemplo: "
Sempre alguns poucos privilegiados irão ganhar em detrimento dos vários outros desafortunados."

Que eu seja revolucionário, socialista, comunista, marxista, hipócrita!, o que for; simplesmente não consigo aceitar que essa frase seja dita livremente. Ratificar que alguns devem se beneficiar às custas de uma maioria...

Mas não é isso que me chama a atenção. Minto: a indignação ao ler trechos como esse é enorme! Tanto que, às 5h30 (3 horas após minha ida à cama), me vieram à mente as palavras de meu professor de História: "uma economia capitalista sem a regulamentação do Estado vai sofrer crises. Por quê? Porque o povo é ganancioso, sempre vai querer obter o máximo possível.", ou algo assim.

Seja o que tenha sido, a minha indignação para com o artigo e um outro motivo pessoal foram o bastante para me acordar (as 5h30!), pensando todas as infinitas possíveis maneiras nas quais o texto fora infeliz. Apareci de pé seis horas mais cedo do que o normal, atitude que fez meus pais, no mínimo, levantarem as respectivas sobrancelhas. Infelizmente, para mim, o tal artigo (entre outros fatores, inclusive relutância ao sono) me fez permanecer com os olhos abertos por praticamente vinte e quatro horas.

Sei que o artigo e o tal instituto não me deixarão tão cedo. Na verdade, até me preocupo com suas ideias! Não minto: acredito ser uma pessoa altamente influenciável, e temo cair pelos seus ideais. Fica em mim a esperança intensa de que isso não aconteça; apesar de permanecer o desejo de conhecer os ideais da Escola Austríaca (muitas vezes, para contrariá-la).

PS: favor perceber que escrevo esse texto vinte e quatro horas após o ocorrido; mal sei como me aguento em pé.