domingo, 5 de julho de 2009

Crise de insônia causada por um neoliberal

Talvez eu nunca tenha exposto aqui um texto político. Muito provavelmente, propositalmente. Sinto-me desconfortável ao expor opiniões de tal cunho. Na verdade, sempre acho que nunca tenho argumentos nem formação suficientes para discutir sobre esse assunto. Só que dessa vez o tópico me intrigou...

Sexta-feira. Eu, como um típico terceiranista da área de humanas, havia acabado de ter uma aula de História. O assunto era totalitarismos, Revolução Russa e a crise de 1929. Não sei se isso influencia, mas certamente é um contraponto ao assunto principal.

Por algum motivo, acabei por parar num tópico de orkut que perguntava sobre a legalidade da xerox de livros. Uma das pessoas que respondeu o tópico chamou-me a atenção, e chequei o seu perfil. Mostrava várias imagens comparando os E.U.A. com o Brasil, e outras que, muitas vezes, exaltavam o capitalismo, até o título de "capitalistic pig". Fiquei na dúvida se o determinado sujeito apoiava o regime ou o execrava.

No entanto, seu perfil trazia um link. Era o que eu precisava para definir sua posição política. O endereço trazido era o artigo "Por que a liberdade assusta tanto?", referente à inexigência do diploma para os profissionais da área de jornalismo. O artigo, não só pelo conteúdo, por alguma razão me foi bastante interessante. Por ele, tomei conhecimento do Instituto Ludwig von Mises Brasil, que busca passar adiante uma doutrina econômica da Escola Austríaca, seja lá o que for. O texto e o site mostram claramente a posição neoliberal (e anarquista, de um certo modo) do instituto.

Não vou mentir: entrei em concordância em alguns pontos. Mas outros, provavelmente os princípios básicos da tal escola, me foram extremamente absurdos. Esse trecho, por exemplo: "
Sempre alguns poucos privilegiados irão ganhar em detrimento dos vários outros desafortunados."

Que eu seja revolucionário, socialista, comunista, marxista, hipócrita!, o que for; simplesmente não consigo aceitar que essa frase seja dita livremente. Ratificar que alguns devem se beneficiar às custas de uma maioria...

Mas não é isso que me chama a atenção. Minto: a indignação ao ler trechos como esse é enorme! Tanto que, às 5h30 (3 horas após minha ida à cama), me vieram à mente as palavras de meu professor de História: "uma economia capitalista sem a regulamentação do Estado vai sofrer crises. Por quê? Porque o povo é ganancioso, sempre vai querer obter o máximo possível.", ou algo assim.

Seja o que tenha sido, a minha indignação para com o artigo e um outro motivo pessoal foram o bastante para me acordar (as 5h30!), pensando todas as infinitas possíveis maneiras nas quais o texto fora infeliz. Apareci de pé seis horas mais cedo do que o normal, atitude que fez meus pais, no mínimo, levantarem as respectivas sobrancelhas. Infelizmente, para mim, o tal artigo (entre outros fatores, inclusive relutância ao sono) me fez permanecer com os olhos abertos por praticamente vinte e quatro horas.

Sei que o artigo e o tal instituto não me deixarão tão cedo. Na verdade, até me preocupo com suas ideias! Não minto: acredito ser uma pessoa altamente influenciável, e temo cair pelos seus ideais. Fica em mim a esperança intensa de que isso não aconteça; apesar de permanecer o desejo de conhecer os ideais da Escola Austríaca (muitas vezes, para contrariá-la).

PS: favor perceber que escrevo esse texto vinte e quatro horas após o ocorrido; mal sei como me aguento em pé.

3 comentários:

Marina disse...

"Sempre alguns poucos privilegiados irão ganhar em detrimento dos vários outros desafortunados." Posso estar errada, mas não senti a frase com sentido de "dever", mas com sentido de ser um fato. Como não ser? Mesmo que pudéssemos viver sem um governo, seria bastante difícil algumas pessoas abdicarem de sua posição para favorecer os desafortunados. Quando no Brasil teremos uma situação justa, mesmo sem governo? Não é só um sonho, é uma utopia.

Quanto a confusão de ideais, li num livro, dia desses, em que um sábio dizia que você precisa saber pelo que você está lutando e saber que isso vale a pena, para não ser desviado do seu objetivo devido às desventuras da vida. Achei bem sensato. Eu não sei ao certo por que estou lutando.

Nina disse...

"terceiranista da área de humanas"
QUE ORGULHO, meu R!

Thaís Cavalcanti disse...

Por que você postou isso, ein, Renato? Agora você conseguiu transmitir sua crise de insônia a mais alguém! =~

o pior é que eu nunca fui contra o liberalismo, porque não existe um país totalmente estatal sem que haja um regime totalitário... mas quando o negócio atinge você tão diretamente, de modo que sua concorrência vá aumentando (isso pra mim já tá acontecendo, no caso) aí... é diferente!

E eu não vou mentir, até que se prove o contário, até faz sentido revogar a exigência do diploma de jornalista, mas... AAAAAAAAAAAH!
... que eu me sinto fazendo gastronomia, administração, etc., me sinto. :(