terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Volta em banco

Meu encontro com o grafite vem se rarefazendo ultimamente. Me restrinjo agora a corridas-de-escrita dentro do molde dissertativo-argumentativo (molde esse que é mais uma receita de bolo - competitiva, visto que se dá melhor quem a prepara em menos tempo - do que livre exercício de opinião) e garatujas envolvendo algarismos indo-arábicos em suas relações operacionais.

O que me traz aqui, então? O ócio. Impedido de exercer as atividades já descritas, que agora se encontram como minhas prioritárias, e me sentindo demasiado impedido de usufruir de um de meus desejos maiores (ler, seria ele), volto a exercer minha função (por mim mesmo incubida a mim) de por mente (parte dela, claro; infinito universo!) em pó-de-carbono.

Jazo há cerca de duas horas em local mesmo e posição. Acredito que tal permanência deve-se prioritariamente a dois fatos: o hábito já recorrente de pagamento de salários no início do mês e a ineficiência dos bancos públicos para lidar com demanda tão alta. Poderia citar como causa também o atendimento prioritário aos ingressos à melhoridade, mas temo arrepender-me daqui a quarenta anos.

Lembro-me de como era minha vida antes daqui. Aproveitava-a com entes queridos, além, é claro, de arcar com os compromissos estudantis. Mas não mais agora. Poderia dizer que minha vida mudou após essas duas horas e onze minutos de espera. A análise dessas cem pessoas que por aqui circularam certamente trouxeram uma experiência nova para mim. Tão envoltas em seus cotidianos, despender tamanha parte de precioso tepo vital já faz parte deles. Unidades de tempo vão sendo gastas não só com a espera no banco, mas também com o pagamento de contas, o trânsito nas rotas trabalho-casa e casa-trabalho, e com a fila do pão.

E é nessa vida que eu me adentro. Sem perceber, caminho não só para a especificação dos estudos, mas também rumo a todas as rotinas típicas de quem já soma uma quantidade considerável de primaveras. O que fica, além do suspiro desiludido e meio que conformado, é o questionamento:

Serei como eles, que de tão absortos nos mundos próprios isolam-se e despercebem o redor?

Não sei. E não posso aprofundar mais. Minha senha foi chamada.