quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um novo par de olhos

Por um tempo de agora me pus a usar óculos. Admito que no fundo sempre tive curiosidade; não sabia o que me esperava. Primeiramente porque todo e qualquer tipo de partícula parece ser atraída por aquelas duas lentes de 15cm². Mas que posso fazer, é só assim que os minúsculos pontos de luz se ordenam.

O problema é que algo me incomoda ao pôr esse par de gafas. Não sei bem o quê. Nesse mundo de homens tão dependente da visão, pô-los me faz ver tudo diferente. Nítido, mas cinza. E nesse mundo de homens tão dependente da visão, toda a construção que fiz do ao meu redor com o passar do tempo vem-me agora distinta, confusa ao meu antigo ver. Claro que nem sempre fui míope, mas um ou dois dos mais importantes de meus escassos anos foram vividos com a luz se indo a todos os lados.

Eis que, portanto, alterno-me entre os dois mundos. Um onde os conceitos são imponentes, definidos, palpáveis. E o outro, que é minha pátria. Daqui me vim, e aqui me formei e a tudo. Aqui, onde a luz decide ir a outros lugares que não meus olhos, e os pontos trocam de lugar uns com os outros na ordem certa das coisas. Eu sou aqui, e aqui tudo se é difuso. Mas se você chega bem perto, as coisas voltam ao lugar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O que me vinha ao vir aqui?

A preguiça é o andamento de tudo o que é vivo. Começa fraco, às vezes nem existe, mas uma hora chega. Com o tempo se cria aquele lodo, e toda a maquinaria pronta para a mais simples atividade vai se travando. A conformidade com o que há vai se tornando maior do que a revolta com o que pode ser e não é. E quando se menos espera, vai dando preguiça de viver e a vida fica com preguiça de ser vivida.

Mas não chego nesse ponto ainda. No momento, foram as minhas lembranças que deram pra preguiçar. Vai ver perceberam como para mim são valiosas, e decidiram aproveitar a valia pra tardar um pouco a vir. Fico aqui com um raciocínio fixo, mas o bombardeio de ideias múltiplas acaba tirando-o do foco. Por agora mesmo já me esqueço do real propósito de iniciar esse texto. Quem sabe me lembro no andamento.

Táticas não faltaram para me habituar às fugas memoriais. Treino a massa cinzenta para me livrar do vazio que esquecer deixa, mas mesmo essas memórias seletas preguiçam do seu propósito de lembrar para não esquecer e abandonam sua função, me abandonando por tabela.

O propósito de estar aqui não me veio à mente. Devo deixar esse texto assim, despropositado. Quem sabe o torne mais humano, e assim ele se junta a nós nessa busca do porquê de ser.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Infinitos e atemporais

Cem anos de solidão terminaram em quatro meses. Nessa relação de tempos medidos, talvez seja mais entendível considerar que são tão distintos tão distintos forem cada mundo. As histórias das vidas solitárias, tão triviais e cotidianas, já vieram datadas e datilografadas, e até dividida em partes. Seja nesse nosso mundo de homens ou em quaisquer um dos outros, a estirpe já estava fadada ao nada de só si mesmos, fado esse ditado por dois grandes sábios, ou ainda um só, que permanecem grandiosos ainda que distantes.

E ao terminar a história dessa casa, formada por tantas outras que só se veem juntas no ser só, a tempestade que nos vem destrói mais uma vez, mas abre em seu lugar um mundo que talvez não seja de homens, nem de coisas vivas. Um mundo que quem sabe, nem seja. Ou que ninguém sabe, mas todo mundo esteja.