domingo, 30 de novembro de 2008

Fomes dos homens

a fome
é de comer?
é só de comida?
vai ver vai além.
e vai!

fome é escolha?
opção?
ou desejo?
necessidade.
passageira?
constante.

fome de ser feliz,
diz a menina sonhadora.
fome de dinheiro,
diz o investidor mal-ou-bem-sucedido
fome de conhecimento,
diz o menino culturoso.

mas só isso é fome?
então fome é bom!
fome move gente
gente move mundo
mundo movimento
gente querendo mover,
fome gerando, gente esfomeando...

mas só isso não é fome.
fome é mais.
fome remete
à fome de comida
mas não a do desejo, da gula
não a da família com casa e emprego
que passa
em minutos.

gente sente fome
fome enorme
fome que mais parece infinita
infinitamente maligna.

fome tão devoradora
que até sonho devora
trucida,
troglodita.

ter carro?
ter família?
ter casamento?
ter educação?
ter melhora de vida?
sem forças!
mal pensa.

quer é um pão,
sopa no caldeirão,
arroz e feijão.

a fome
é muita;
chega nem a ser só fome
vira fomes
e falta ainda
falta a fome que mais falta
que mal aparece
mas que é mais essencial:

fome de ajuda.
fome
que nao desperte só desejo próprio
que venha assim
como aquela vontade
incontrolável
das entrahas
daquelas que tomam posse
vontade essa
de ajudar.

pois essa fome
fome que sonho devora
fome que desumaniza
fome que mata
essa fome
ninguém deveria sentir.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

palavra

plantou-se uma semente;
sabe-se lá quem foi.
Veio o passarinho do acaso:
germinou.
Ou será que só existia?
só e sempre?
dispensando o indispensável?

Vai saber.
sabia a procedência:
cresceu. E como!
espalhou galhos
como que a alma fosse luz
a mente fosse ar

mas só disso não sobreviveria!
e não sobreviveu. não só.
necessitou ser regada,
adubada:
teve outros.
seja pela demonstração de interesses mesmos
ou pela dominação daquilo que idolatrava
ou melhor,
conhecimento.
Quem poderia dominá-la, afinal?

De onde veio era o mistério
o que se tornaria eram os sonhos
mas o que levou ao seu aparecimento foi claríssimo

viu que mudou,
aos poucos.
Ingadagações não faltaram
a ele o que teria acontecido?
mal sabiam,
aquilo era a mais profunda arte:
a palavra.

sábado, 15 de novembro de 2008

Finalmente.

-Finalmente, é meu! Meu! - o garoto gritava.

De fora, a cena parecia como em um hospício. Mas a mãe entendia.

-O que raios é isso? - alguém de fora apreciava a cena.
-Ah, - suspirou a mãe - é que ele conseguiu.

E realmente conseguira. O escritório era, enfim, apenas dele.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Simplicidade

Inicou ali uma busca incessante,
queria a imensa felicidade:
a via num grande amor.
Quantos mares não desbravaria?
Quantos campos não correria?
Quantos ventos não voaria?
Por quantas brasas não andaria?
Mas espera...

Por quanto tempo agüentaria?
Anos se foram
E o quê?
E nada.
E eis que surge a questão:
por quantas ainda passaria?

Talvez fossem todas:
ficara abalado.
havia solução?
achava que não.

Lembrou-se de comer.
E nessa procura toda
até o estômago esquecera?!
coitado!
tão fraco, tão fraco
sem comida, sem amor,
sem corpo, sem coração
sem energia
só podia fazer coisa simples;
um pãozinho, quem sabe.

Ah, que grande tolo!
tolo homem!
macio a tal ponto
cremoso, então!
como pudera não perceber
que o que o faria mais feliz
do que o pãozinho meio cru com requeijão?

Fome? que nada!
estava era feliz.