segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Risada.

E na paz, ou melhor, na incomum e talvez até um pouco insensata sensação de paz que eu tinha naquela parada de ônibus, surge um grupo. Conversador, sim, mas não tinha focado minha atenção, ainda. Conseguiram-na quando uma das meninas (a mais relevante, na verdade), arremessou uma garrafa de suco vazia contra o muro atrás da parada. Aquilo, como a minha educação ecológica parcialmente autodidata prezava, chocou-me. E como! Infelizmente, choque esse insuficiente para transbordar o interior e exteriorizar-se.

(Como se a indignação pudesse ser medida e, através de tal medição, houvesse um limite a partir do qual o interior não mais suportasse, passando para fora. Ora!, o interior é vastíssimo, digo, infinito! A tal angústia é que tem que se adequar a situações intra ou extracorpóreas.)

Voltemos ao ocorrido. Após o arremesso, a tal menina colocou uma latinha de refrigerante no meio-fio. Achei que apenas o meu olhar fuzilante fosse o bastante para mostrar a ela o quão errada estava. Minto; sabia que de nada adiantaria, mas ainda assim não me arriscaria a falar. Havia uns 6 com ela, sendo dois desses homens mais velhos. Pergunto-me quando surgirá em mim coragem para combater comportamentos tão instintivos...

Vendo-a fisicamente: era um tanto baixinha, gorducha ("fortinha", como diriam os disfarçadores mal-disfarçados), tinha um cabelo comprido e ondulado, preso por um pitó. Trajava um vestido rosa que realçava ainda mais suas já bem visíveis e abundantes curvas. Além disso, tinha um gesso num dos braços, não sei qual dos dois (admito não ser muito bom com os dois lados). Confesso não ter reparado em seus pés, mas deveria usar sandálias.

Psicologicamente, percebia-se grande felicidade e despreocupação. Como se o mundo não fosse mais ninguém além do grupo com que andava. As duas coisas me angustiavam. Principalmente quando ria. Era uma gargalhada aguda, como aquelas de bruxas. E o fazia com freqüência; até demais. Seja o que for, aquela risada me tocava no âmago. Negativamente. Fez-me rezar para que o Rio Doce/Príncipe fosse apenas o meu ônibus, e não o deles.

Ledo engano. Nem o fato de estar o mais distante possível livrou-me os ouvidos.

2 comentários:

meus instantes e momentos disse...

muito bom teu blog, parabens , foi muito bom conhecer.
Maurizio

Marina disse...

Ai, nessas horas eu queria ter coragem de pegar a latinha e arremessar do mesmo jeito, com a mesma força, na cabeça dela. Ação e reação. Ou pelo menos ter coragem de pegar do chão e jogar no lixo mais próximo, na cara da menina, pra fazer ela passar vergonha.

Meu espírito ecológico fala mais baixo que minha covardia. Ela reina absoluta. Pena.

Abraço!