terça-feira, 31 de março de 2009

Dalton

-Zinho?
-Diga, minha filha.

Dolant falava com ele assim. Se é que podia chamar de ele. Se é que podia chamar de alguém! Quem é? Ah, aquele que dizem todo poderoso... Deus, Jeová, Alá, que seja.

-Cê num acha que a vida poderia ser mais do que já é?
-Mais como?
-Ah... além.
-Ora, foi para isso que eu dei às pessoas a capacidade de criar!

Dolant pensou bem muito e teve uma ideia: criou um deus. Não foi fácil, teve que ter muita concentração e desejo. Dizem até que passou anos pensando apenas nisso para consegui-lo! Mas criou. E esse deus foi forte: criou uma vida mais do que já era.

-Zinhoinho?
Era assim que
Dolant chamava o deus dela.
-Sim?
-Meu deus me deu o poder de criar meu deus. E se ele também tivesse sido criado por alguém com o poder de criar um deus?

Zinhoinho não respondeu. Não que fosse incapaz; só não queria dar a
Dolant a resposta.

Mas isso não importava, e
Dolant sabia que não.
O que importava é que ela tinha ido além, e isso fez dela seu próprio deus.

Um comentário:

Anônimo disse...

podíamos tomar uns goles de uísque e cuspir na mesa, na cara da empregada, dar um tiro na cabeça. podíamos tantas coisas quando criamos. mas quando somos criaturas...