sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bola de cristal mental?

Vai ver tenha sido a minha educação televisiva que me fez acreditar nessa idéia, mas acho sinceramente que há capacidades mentais ainda não exploradas. Não baseio o ponto de vista apenas em crença: há episódios que, ao menos para mim, o comprovam.

Primeiramente, o hotel. Lá estava eu, no banheiro, pronto para tomar um banho. Como se sabe, hotéis geralmente têm toalhas próprias para os hóspedes. No entanto, já que minhas estadias não seriam sempre em estabelecimentos que as providenciam, decidi levar uma minha.
Ao entrar no banheiro, jaziam as duas: a do hotel, numa espécie de cabide; e a minha, em minhas costas. Foi quando reparei como ambas eram parecidas: brancas, talvez até um pouco encardidas. O que as diferenciava era a logomarca na do hotel, enquanto a minha não passava do alvo manchado.
É aí que vem o quê de extraordinário: o pensamento.
Não foi algo esperado. Não foi algo voluntário. Repentinamente, como que surgido dos confins infinitos do nada, vem a indagação:
-E se a camareira trocar as duas toalhas?
Aquilo me prendeu por severos segundos. Buscava respostas num intervalo de tempo que aparentava durar mais do que deveria, para uma pergunta que nem precisava de tanto. Devo ter demorado por causa da incredulidade acerca do fato de desconhecer a procedência da indagação. Passado o instante, respondi a mim mesmo: "ora essa! com essa estampa, duvido ela não perceber".
Dito e feito. Ou melhor, pensado e feito. Ao voltar de um longo e frio, ainda que quente para os habitantes locais, dia londrino, constatei que minha toalha, aquela que puxava para um tom levissimamente amarelado, havia desaparecido.
Ah, como não me senti! Primeiramente, inconformado, diria até descrente do ocorrido. Rodei o quarto, e virei cada cantinho atrás dela, sem sucesso. Acabei aceitando: havia feito uma previsão certa. Mas como isso havia acontecido? Por que raios eu tinha previsto isso? Ocorreria de novo? De onde veio essa intuição?
Deixei todos os questionamentos de lado. Fiquei apenas achando o acontecimento engraçado. Fui à recepção do hotel pedir minha toalha de volta. Como seria por demais complicado obtê-la da lavanderia, aceitei ficar com uma das do hotel. Seria um bom souvenir, certamente.

Analisemos agora o segundo ocorrido: O cabeleireiro. Esse até deveras cômico. Pois bem...
Lá vou eu, cortar o cabelo. Até aí, tudo bem. Dois são os donos do local: pai e filho. um mais velho, já nos seus 50. O outro num meio-termo entre 30 e 40. A verdade é que, não por por achar o mais velho incapaz, mas prefiro quando o filho corta. O que acontece era que este estava já com um corte em caminho, e o tempo era escasso; curso de inglês em meia hora. Pois bem, vamos com Roberto.
(Robson e Roberto, os nomes, em ordem crescente de idade. Parece até dupla sertaneja, não?).
Ok. Sentei na cadeira, ele passou o avental (qual seria o nome daquela peça de roupa? enfim) por mim, água com o borrifador e vamos ao corte. Tudo muito bem.
E então, ocorreu novamente: o pensamento. Repentino, vindo de sabe-se lá onde, sabe-se lá o intuito do mesmo:
"Já pensou se ele corta a minha orelha?"
Quais eram as chances? E qual a quantidade de preconceito que havia no comentário? Até onde eu sei, era puramente inocente, mas quem sabe se não havia desconsideração por causa da idade contida inconscientemente?
A resposta foi direta e, mais uma vez, repressiva:
"Que é isso! O cara é um profissional, deve cortar cabelo a mais tempo do que eu tenho de vida, e..."
A resposta foi interrompida. Pelo quê? Ora, por aquilo que, para quem está acompanhando o texto, está esperando; mas para qualquer um que vivesse a situação seria completamente improvável.

Mas pois é. Ele, sim, cortou a minha orelha.
"FILHO DA PUTA!", pensei imediatamente. Na verdade, o ato do corte desencadeou uma corrente de pensamentos incessante. Antes de mais nada, não foi profundo; só a pontinha. "Mas o que ocorreu em seguida?", deve ser uma pergunta a ser feita. O que se esperava, o que eu esperei, na hora do ocorrido, era alguma fala. "Eita, desculpa!" seria algo bom de se dizer, seguido por um "Ainda bem que não foi profundo.", quem sabe. Esse último seria um tanto quanto desegradável de se ouvir, eu provavelmente diria "Que nada, relaxe", mas estaria na verdade pensando em algum palavrão.
Eis que, a tal corrente de pensamentos incessante, foi toda relacionada ao fato de ele não ter demonstrado nenhuma preocupação com o ocorrido. "Talvez não esteja sangrando", pensei, "e por isso ele não falou nada". Decidi verificar, e passei o dedo. Pegajoso. Vermelho. "VIADO DO CARALHO", devo ter pensado algo do tipo. Daí então a cabeça fervilhou com comentários do tipo "ELE NÃO VAI FAZER NADA?!" e outras coisas bastante ofensivas. Na verdade, quando ele viu que eu havia passado o dedo, ele passou algo que não me recordo agora, deve ter sido talco com aquela escovinha de cabeleireiro, tentando esconder o crime. Não sei o que foi pior, ele tentando disfarçar a mutilação ou o fato de eu ter sequer reagido: recusado a pagar, quem sabe, era uma boa pedida. A verdade é que, infelizmente, sou muito passivo a várias coisas às quais eu deveria reagir.
O que se sabe é que o corte rendeu boas piadas. É, realmente, uma boa história para se contar. Da outra vez em que fui cortar o cabelo (não com ele, mas com o filho, felizmente), pessoas verificaram o estado da minha orelha, ou então perguntaram "e aí, tá inteira dessa vez?".
Eu acho que estava muito ocupado xingando o velho gagá com parkinson filhadaputa na hora do ocorrido, mas depois eu comecei a refletir acerca do fato de que, mais uma vez, algo que eu havia apenas considerado se poderia acontecer havia acontecido de fato. A verdade é que eu guardei a experiência exatamente para poder então relatar sobre o caso da previsão. A capacidade estava se tornando cada vez mais real. E perceptível.

Falta ainda o caso do ônibus. Mas que fique para depois; são uma e cinco da manhã, e preciso ir ao médico bem cedo (uma e seis agora) na alvorada (tudo para não repetir 'manhã') seguinte. E realmente espero terminar isso aqui antes de passar a ser uma e sete.

(Consegui.)
(No momento da digitação do 'i' de 'consegui', constato o contrário.)
(Agora sim.)
(Sem constatações divergentes.)

Nenhum comentário: